por Victor Tubino,  gerente sênior da prática de riscos e performance na ICTS Protiviti,

Após um ano do primeiro caso do Coronavírus e do início da quarentena no Brasil, estamos enfrentando uma segunda onda ainda mais severa e mortal do que a primeira. Ao olhar pelo retrovisor, podemos avaliar as medidas que foram tomadas pelas empresas analisando os pontos que deram certo ou não, assim como as lições aprendidas até o momento, que refletem os caminhos que devemos seguir daqui por diante.

Nos primeiros meses, principalmente entre março e maio de 2020, foram formados comitês de crises que refletiram sobre a continuidade e a sobrevivência dos negócios e as medidas iniciais que seriam tomadas de acordo com aquele cenário, além das perspectivas de agravamento. Naquele período, a tecnologia foi a grande aliada e suportou a continuidade das atividades em meio à pandemia por meio de recursos audiovisuais e acessos remotos aos sistemas das empresas.

De julho a agosto, apesar da crescente curva de contaminados e óbitos, as empresas estavam estabelecendo uma nova rotina e se adaptando ao “novo normal”. Essa movimentação refletiu na alta de 1,06% na atividade econômica de agosto em comparação a julho, mantendo um cenário de crescimento, de acordo com o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central).

A perspectiva era de que o retorno às atividades aconteceria entre outubro e dezembro. Diante deste cenário, algumas empresas se preparavam para voltar ao escritório e continuar operando e minimizando as perdas que tiveram nos meses anteriores. Neste período, os comitês de crises e de continuidade de negócios instaurados no início da pandemia foram desativados e as ações específicas foram direcionadas às suas áreas responsáveis porque o foco se tornou o plano de retomada às atividades.

Apesar deste otimismo nacional, no cenário global, entre outubro e novembro, aconteciam as segundas ondas de infecção e quarentena em países como a França, Espanha e Itália, as quais poucos meses depois chegaram ao Brasil. Neste momento, as empresas retornaram à experiência da primeira onda, mas, poucas reativaram seus comitês de crise ou continuidade, dado que já encontravam-se com uma dinâmica estabelecida.

Depois de um ano, como ponto positivo, as empresas que sobreviveram se tornaram resilientes, principalmente por terem adquirido uma capacidade de resposta mais adequada. Essa condição pode ser exemplificada com a normalização do home office, a aplicação de novos sistemas e a digitalização das relações de trabalho, entre outros pontos. Em contrapartida, as empresas tiveram que se adaptar às novas preocupações, como a saúde mental dos colaboradores, a segurança e a privacidade dos dados fora do escritório tradicional, o suporte técnico para equipamentos e mais.

Com todo esse histórico, ficam seis importantes lições para as organizações:

1. As ameaças, que eram mais controláveis em ambientes centralizados, foram potencializadas com o trabalho à distância e, como consequência, o vazamento de dados pessoais e ataques cibernéticos mais frequentes. Diante deste cenário, surge a necessidade de constante monitoramento para a mitigação dos riscos.

2. O home office foi estratégico, porém trouxe novos riscos, como a privacidade de dados e a disponibilização de ferramentas de trabalho, que devem ser avaliados e tratados pelo suporte técnico.

3. O turnover para determinadas funções aumentou consideravelmente, afinal, devido ao trabalho remoto, a concorrência por mão de obra se tornou global ao invés de local.

4. A volatilidade e as incertezas do ambiente macroeconômico brasileiro e global estão afetando mais rapidamente as decisões das empresas, portanto, monitorar e se preparar para cenários adversos deve ser estratégico e estar na discussão dos executivos.

5. A dependência da cadeia global fica cada vez mais evidente e, portanto, ter planos de continuidade na empresa e nos seus principais fornecedores é uma questão estratégica.

6. Os provedores de grandes sistemas e infraestruturas em nuvem estão mais concentrados e suscetíveis, uma vez que uma indisponibilidade afeta as operações não só localmente, como também mundialmente.

A partir dessas lições aprendidas, os executivos podem revisitar os planos estratégicos de continuidade de negócio e tornar não apenas a empresa resiliente, mas todo seu ecossistema.