Telmo Schoeler*

Para entender a profundidade, extensão e inexorabilidade que o propósito sustentável ganhou, é preciso analisar seus fundamentos e razões de forma técnica, realística, sem paixões ou saudosismos.

Primeiro, é preciso perceber como o mundo empresarial e os negócios mudaram. Por exemplo, nos tempos de Henry Ford, literalmente, se fabricavam automóveis e em torno da sede em Detroit haviam várias subsidiárias, como a US Steel que fabricava o aço, a Firestone que produzia os pneus, assim como vidros e outros insumos, tudo convergindo para a linha de montagem, de onde saiam carros cuja cor o cliente poderia escolher, “desde que fossem pretos”. Isto porque a concorrência praticamente inexistia. Foco da família Ford, como de todos os líderes empresariais da época, era maximizar os resultados para os acionistas, inclusive inspirados por Milton Friedman que academicamente pregava ser este o único objetivo das empresas.

Avancemos aos dias de hoje. O mundo empresarial evoluiu para uma cadeia, globalizada, interconectada, onde a existência, viabilidade e, portanto, perenidade de qualquer empresa depende, não apenas do acionista empreendedor, mas também de supridores que o abastecem, de clientes que comprem seus produtos, da equipe de colaboradores que fazem o produto existir, dos supridores de recursos, tecnologia, e serviços, entre outros, imprescindíveis para que o negócio exista.

Da adequação dessa cadeia e de sua governança individual é que dependerá a capacidade da empresa chegar a um mercado cada vez mais concorrido, com cliente com poder de escolha e onde sua eventual compra terá que remunerar satisfatoriamente toda essa cadeia, inclusive, mas não exclusivamente, o acionista. Tecnicamente, significa que a sustentabilidade das empresas passou a depender do atendimento satisfatório de todos os “stakeholders” dessa cadeia de vida.

Em segundo lugar é preciso entender que no passado bastava simplesmente ao acionista saber fabricar produtos ou disponibilizar serviços, tomando decisões simples, sem grandes exigências de gestão. Mas a modernidade e interatividade trouxeram uma complexidade que evoluiu e forçou a inserção numa estrutura de Governança Corporativa, um sistema composto do conjunto de acionistas + conselheiros + executivos + órgãos de controle, todos agindo com foco na perenidade da empresa e na criação de valor.

Dito de outra forma, o objetivo de todos os agentes da governança é promover a sustentabilidade da empresa e a sua valorização, conceitos intrinsecamente vinculados ao longo prazo. É claro que isto não dispensa atenção a fluxo de caixa e resultados, mas perdeu sentido o objetivo de maximizar resultados no curto prazo. Em essência, o mundo passou a exigir eficiência financeira coletiva, onde cada um dos agentes da cadeia circular de negócios precisa contribuir para a viabilidade da mesma, fazendo a gestão do seu negócio de forma a remunerar o seu capital empregado, mas também viabilizando quem vem antes, depois e durante o processo, pois de outra forma simplesmente deixará de existir.

Cabe uma terceira reflexão e consciência que tem a ver com a dimensão ambiental. Toda a cadeia de stakeholders, incluindo acionistas, investidores, gestores, se deu conta de que não cuidar de questões ambientais é prejudicial à sociedade, aos negócios e às finanças. Poluir ruas ou rios originará impostos maiores do que os custos da não poluição; se evitarmos os alagamentos, melhoramos a logística, evitamos fechar o comércio, reduzimos prejuízos; preservando a fauna, teremos mais e melhor comida, etc.

Assim, o moderno e adequado gerenciamento das questões ambientais tem uma lógica financeira e capitalista, para redução de riscos, sustentabilidade e criação de valor, com foco em benefício dos negócios, da sociedade e dos cidadãos, nada a ver com qualquer viés socialista, lúdico, político ou de governo.

Por tudo isso, a moderna governança e gestão que vem evoluindo no planeta, com posicionamentos crescentemente impositivos de vários stakeholders, inclusive e especialmente investidores e financiadores, recebeu a sigla de ESG – “Environmental, Social, Governance”.

Por questões de fonética a ordem é essa, pois o correto, por lógica de causa-efeito, seria GSE, pois apenas com uma Governança adequada, seremos capazes de levar adequadamente em conta os ingredientes Sociais e de contribuir para os positivos efeitos relativos ao Ambiente (Environment), em benefício econômico coletivo.

*Telmo Schoeler é fundador e presidente da Orchestra Soluções Empresariais.