Por Karine Leite Orsolin

18 de março de 2020, a data em que se iniciou para mim o isolamento por conta do COVID-19.

Na época, a empresa na qual estou lotada já havia começado a afastar os colaboradores, adotando o home office, porém, nós estávamos em revezamento no Arquivo Central, afinal, como seria possível trabalharmos 100% de casa com um acervo físico tão grande?!

Não demorou nem duas semanas para que o nosso revezamento fosse cancelado, se tornou oficial: as empresas terceiras que trabalhavam na parte administrativa também deveriam adotar o home office.

Assim, começamos nossa rotina de casa. Porém, um grande problema nos assolava: as pesquisas de documentos físicos, e o contínuo envio dos mesmos para arquivamento.

Logicamente, continuamos a fazer boa parte do nosso trabalho de casa, com acesso aos sistemas de inserção e consulta de documentos que muito nos facilitam a vida, como o espaider, por exemplo.

Depois de algumas reuniões, expondo nossas dificuldades, e a necessidade de retorno ao menos uma vez na semana para atendimento, conseguimos a autorização de acesso. Após alguns meses, conseguimos o acesso duas vezes por semana, e assim têm sido até então.

Sim, a empresa SEMPRE se preocupou muito com a saúde dos colaboradores e dos terceiros, não há dúvidas disso. Vêm enfrentando essa pandemia com muito cuidado e zelo.

Mas o que quero expor nesse singelo artigo é a dura e crua realidade de muitos arquivistas que, assim como eu, trabalham em arquivos que ainda não estão dentro de uma cadeia digital.

Ou seja, boa parte de seus acervos não está digitalizado, o que não era absolutamente um problema em uma situação normal, afinal, as pesquisas sempre foram atendidas em tempo hábil com uma equipe preparada e especializada.

Entretanto, essa pandemia veio para nos mostrar o quanto é uma necessidade vital a existência do acervo digital. Um processo que envolve um projeto detalhado e um grande investimento financeiro também, mas que acaba compensando por sua praticidade e agilidade na busca e entrega da informação.

Ficamos felizes em ver o avanço dessa discussão em empresas privadas, e aqui não me refiro somente às empresas que possuem uma gestão eficaz dos documentos físicos, com arquivista em seu quadro. Não, me refiro também às pequenas e médias empresas, que se viram em uma situação diferente de tudo o que já viveram e agora abrem os olhos para essas novas possibilidades, enxergam o quanto um arquivo com uma boa gestão é útil e eficaz para a organização.

Eu como a pessoa otimista que tenho me tornado, enxergo oportunidades no futuro (já não tão distante) para nossa área de atuação. Acredito profundamente que essa pandemia veio mostrar o quão importante é o nosso trabalho dentro das organizações, apesar de nem sempre ser reconhecido como tal.

Nosso papel vai muito além de apenas guardar documentos, digitalizar e enviar. Nosso trabalho envolve toda a gestão das informações, desde a sua produção, até sua destinação final. E nesse meio, há muito o que ser discutido e queremos estar incluídos em cada discussão, afinal quem melhor do que o profissional da informação para decidir como conduzir uma gestão eficaz de documentos e arquivos?!

A vantagem de se trabalhar com um acervo híbrido, ou seja, digital e físico, é a bagagem que se constrói, é ter a oportunidade de viver os dois lados da moeda.

A MP da Liberdade Econômica veio para ficar, e as empresas visando eficiência e uma gestão de custos mais enxuta certamente irão acolhê-la. E assim, o investimento em digitalização será uma sábia escolha, tornando os arquivos físicos um local realmente de guarda da história da organização, e não tanto um local de guarda de documentos administrativos, como o tem sido em tantos lugares.

Nós, como profissionais da informação, precisamos estar sempre atualizados e buscando nos adaptar a essas transformações.

A vantagem de se trabalhar com um acervo híbrido, ou seja, digital e físico, é a bagagem que se constrói, é ter a oportunidade de viver os dois lados da moeda, trabalhar com a gestão física e eletrônica, e para mim, tomar conta de um acervo assim, tem sido uma rica experiência.

Mas para o futuro, estou pronta para as transformações digitais que logo tomarão conta das organizações e modificarão o rumo de nossa profissão.

Espero sinceramente que as faculdades se adaptem ao ensino nesse modo, pois a realidade do arquivista que trabalha em acervos privados, é bem diferente da realidade dos acervos públicos. Felizmente já vivi os dois lados, posso falar disso com certa propriedade.

Seguiremos confiantes em dias melhores. Que essa pandemia nos traga lições, aprendizados e que passe logo porque ninguém aguenta mais.