Por Otto Pohlmann, CEO da Centric Solution, empresa de tecnologia que fornece soluções completas para atender aos requisitos de segurança e da LGPD

Hoje a internet das coisas, ou IoT, tem mais de 30 anos de história. Isto costuma acontecer com as tecnologias: muitas vezes passam-se décadas da sua descoberta ou concepção para se tornarem algo útil e empregado em larga escala.

Ela vem de antes da década de 90 quando os engenheiros perceberam que qualquer dispositivo que tenha um endereço IP poderia ser endereçado por outros dispositivos, abrindo assim o conceito além das tradicionais redes de computadores. Esse tipo de comunicação passou a ser conhecida como Device to Device, ou D2D, criada por Bill Joy, o criador do Berkerley UNIX e fundador da SUN Microsystems.

As primeiras implementações de D2D foram os dispositivos RFID, que se comunicavam e se identificavam para algum dispositivo de leitura.

A SUN foi uma das primeiras a defender o conceito “The network is the computer”, em que a inteligência coletiva de todos os nós acabaria por se tornar um computador gigantesco, alguns de nós com capacidade de processamento, e muitos com capacidade de coletas de dados. Ela trabalhou fortemente na evolução dessa ideia tanto que o ‘Anel Java’ usado pelo chefe da Sun Microsystem Scott McNealy durante o Gartner Group Symposium chamou extrema atenção, muito mais do que anéis de ouro e brilhantes.

O Anel Java era basicamente um cartão inteligente colocado num anel para reforçar o conceito de mobilidade, que podia receber e transmitir sinais a uma distância de 10 polegadas. Era um dispositivo móvel com endereçamento IP, que tinha incorporado uma inteligência programável, um software escrito na linguagem JAVA criada pela SUN.

O JAVA RING de McNealy foi o precursor dos dispositivos IoT atuais aos quais foram incorporados recursos de comunicação mobile. Com o JAVA RING, McNealy era capaz de abrir portas, ligar o carro, fazer saques em bancos, qualquer tarefa para a qual o dispositivo principal estivesse programado para primeiro identificar e depois interagir.

O marketing de McNealy com certeza estimulou vários fabricantes a produzirem aparelhos portáteis, como telefones Java baseados em tela e outros dispositivos de consumo. Podemos dizer que a pregação dele deve ter induzido à criação de muitos dispositivos revolucionários, entre eles o iPhone.

Apesar de já existir há mais de 10 anos, em 1999 o termo “IoT” foi cunhado por Kevin Ashton, do MIT, e assim o conceito passou a ser chamado genericamente dali para frente.

Foi também em 1999 que Bill Joy, fundador da SUN e criador do Berlerley UNIX (BSD), na sua apresentação no Fórum Econômico Mundial de Davos, descreveu o seu conceito das “Six Webs”:

A “Near Web”, aquela que está acessível pelo seu desktop ou laptop.
A “Here Web”, aquela que está disponível para seus dispositivos mobile.
A “Far Web”, aquela que está disponível na sua TV.
A “Weird Web”, aquela em que você interage por voz.
A “B2B Web”, aquela em que máquinas interagem entre si.
A “D2D Web”, aquela que é a web dos sensores.

Portanto, o mundo do IoT está neste último nível, no dos sensores inteligentes embarcados em infinitos dispositivos que através de uma implementação moderna de hardware, software e comunicação conseguem se interligar de uma forma padronizada.

Talvez nessa classificação tenham esquecido que, além do universo dos sensores, dos dispositivos inteligentes, se incluem “coisas” a serem controladas através de dispositivos inteligentes capazes de nos rastrear por meio dos nossos dispositivos, ou até de dispositivos com reconhecimento facial. O mundo do IoT, se não devidamente regulamentado, nos joga irremediavelmente no mundo utópico e distópico de George Orwell (autor de 1984).