Não é de hoje que as empresas vêm sofrendo uma profunda transformação nas relações de trabalho, mas a pandemia acelerou bastante esse processo. Não há um consenso sobre o tamanho do salto provocado pela Covid-19, mas acredita-se que o mercado avançou de cinco a dez anos desde março de 2020, quando o mundo se viu obrigado a reprogramar suas ações diante de um vírus invisível e perigoso. O fato é que vivemos agora o que seria um inevitável futuro próximo. Só que esse futuro chegou antes do esperado.

Entre os principais desafios das empresas, principalmente as de inovação, está a manutenção de sua cultura organizacional. Em menos de um ano, os gestores se viram diante do desafio de se reinventarem em uma rotina de isolamento e, agora, em um caminho de volta – realidade iminente com o aumento de vacinados e com a desaceleração da pandemia de Covid-19.

O primeiro momento: trabalhar em casa ou morar no trabalho?

O processo de migração do presencial para o home office se deu com alguns desafios, dentre os quais pode ser destacada a necessidade de uma tecnologia que fosse eficiente e segura ao colaborador. O local de trabalho também foi bastante discutido no primeiro momento, com a adequação do ambiente residencial para receber o profissional, sem que ele tivesse prejuízos no seu rendimento e também na saúde. Móveis, equipamentos eletrônicos e acessórios com ergonomia adequada foram disponibilizados por muitas empresas para que o colaborador sentisse o menor efeito possível da mudança. No entanto, em muitos casos, mesmo que as consequências físicas tenham sido atenuadas, as emocionais necessitaram de uma atenção maior.

Com a família em casa, o balanço entre a vida pessoal e a profissional foi, e continua sendo, um ponto de atenção importante e propõe uma nova dinâmica, onde atividades domésticas se misturam às profissionais. Mas, afinal, com o home office, os profissionais passaram a trabalhar em casa ou morar no trabalho? Até hoje, muitos não sabem responder à pergunta.

“A mudança radical para um ambiente de trabalho descentralizado e digital acelerou soluções que suportem a cultura corporativa e o bem-estar dos funcionários, que são fundamentais para a produtividade de forma continuada. Durante estes últimos 18 meses, procuramos oferecer novas experiências, incentivos e aprendizados, como forma de minimizar o efeito negativo relacionado a pandemia”, destaca Ana Paula Aukar, diretora de operações da Eppendorf do Brasil, empresa alemã de Life Science especializada em soluções para laboratórios.

O retorno seguro: desafio e realidade
É a partir desse diagnóstico emocional do time que um novo desafio surge: o do retorno seguro. O empregador, ao exigir o retorno ao trabalho presencial, mesmo que de forma híbrida, deve cumprir alguns requisitos, previstos na CLT, como o registro de um aditivo contratual, a concessão de 15 dias para que o colaborador se adapte à nova rotina, bem como garantir a ele que a mudança não vai prejudicar sua saúde. Para Ana Paula, esse período é relativo e pode ser maior, tendo em vista que os gestores devem entender que é preciso um tempo para “virar a chave”:

“É importante que os líderes não adotem medidas drásticas de retomada e compreendam a importância do período adaptativo. Se o modelo for balanceado, certamente o impacto será menor, e as dificuldades, mais fáceis de serem superadas”, pontua.

Os mesmos esforços promovidos para que as reuniões virtuais incorporassem os elementos essenciais para manter a cultura da empresa vêm sendo feitos para que o retorno seja menos traumático. Ana Paula acredita que o revezamento de times no modelo presencial é uma tendência cada vez mais real, principalmente nas empresas de tecnologia. A própria Eppendorf alterou o contrato de trabalho dos colaboradores, tendo como perspectiva um caminho sem volta para o modelo híbrido. Em uma fase de transição, o teletrabalho tem sido substituído, desde o início de outubro, por um ou dois encontros presenciais por semana.

“É fundamental manter encontros presenciais das equipes para um alinhamento de estratégia, planejamento, inovação e a interação entre os departamentos”, destaca.

O reencontro nos corredores e cafés está voltando. Mas não será como antes. Os deslocamentos diários, a marcação de ponto e as grandes estruturas de trabalho vêm dando espaço a uma nova rotina, baseada em comunicação, motivação e comprometimento dos líderes e colaboradores.

“Acreditamos em um modelo de negócio próspero, para a empresa e para os colaboradores, em que a confiança tem impacto direto na produtividade e no engajamento”, afirma Ana Paula.