Completando a nossa tríade de artigos sobre Blockchain, vamos aqui apresentar alguns pontos de vista que encontramos sobre esta tecnologia e sua aplicação aos negócios, a partir da leitura de matérias publicadas no CIOsobre o tema.
Trata-se de uma tecnologia ainda bastante polêmica, em relação à qual não há unanimidade: de um lado existem os que a defendem de forma entusiástica, de outro lado temos aqueles que são céticos quanto à sua real efetividade e segurança para os negócios.
Iniciamos estas considerações nos reportando à retrospectiva feita pelo CIO no final do ano sobre os oito artigos mais lidos sobre o tema publicados em 2017: todos eles apresentando uma visão otimista quanto ao futuro do Blockchain e /ou contendo recomendações sobre como enfrentar os desafios de sua implantação no ambiente dos negócios.
De uma forma geral nestes artigos buscou-se mostrar que tal tecnologia representa uma nova mentalidade que o mercado está abraçando rumo à quarta revolução industrial, conhecida como industria 4.0., contexto no qual pressupõe-se que o Blockchain terá papel relevante.
Vamos aqui resumir o que mais nos chamou a atenção em cada uma das matérias publicadas.
Em quatro premissas para o bom uso do blockchain a tecnologia é vista como a forma por meio da qual as transações entre partes podem ser simplificadas, com efeitos na diminuição dos custos operacionais, na prevenção e redução de fraudes e no rastreamento das transações. Ainda se antevê o potencial de inovação e de transformação dos processos de operação e de gestão dos bancos, através de um modelo descentralizado usando milhares de máquinas distribuídas como alternativa aos atuais computadores centralizados de grande porte.
Em cinco princípios básicos do Blockchain fala-se do seu principio de funcionamento como um livro contábil virtual de forma pública, compartilhada e universal, que cria consenso e confiança entre as pessoas envolvidas em uma determinada transação comercial, evita a duplicação de gastos, a falsificação e a adulteração de dados, aliada a uma contabilização aberta e transparente independente de uma autoridade central.
Em Brasil ainda vive o hype do Blockchain é dito que ainda estamos dois passos atrás dos países mais avançados, que já começam a realizar as primeiras provas de conceito da tecnologia para além da área financeira, mas que isso pode ser uma vantagem. São salientadas oportunidades de uso da tecnologia em outras verticais como o agronegócio, os serviços de saúde e os serviços cartorários.
Blockchain versus Uber e Airbnb: quem leva a melhor? faz um exercício de pensar disruptivo, juntando as ideias sobre a tecnologia Blockchain e a economia do compartilhamento, para mostrar que mesmo os recentes casos de sucesso como o Uber e o Airbnb correm o risco de serem superadas pelo compartilhamento – entre fornecedores e consumidores – de um ledger (livro de registros) digital descentralizado, sem necessidade de uma plataforma agregadora centralizada.
Prepare-se. O Blockchain vai impactar vários modelos de negócios descreve algumas verticais que estão já buscando se beneficiar dessa tecnologia: compartilhamento de informações entre instituições financeiras sobre os clientes, controle e diminuição do tempo de liquidação de transações no mercado acionário e desenvolvimento de transações entre as partes utilizando os smart contracts (contratos inteligentes).
Quatro exemplos de uso do Blockchain como ferramenta de colaboração nos fala das perspectivas de crescimento das aplicações e apresenta casos recentes de provas de conceitos que têm sido bem sucedidas, como a experiência do MIT Media Lab de compartilhamento de informações sobre medicamentos para pacientes através de um ledger de blocos chamado MedRec, baseado na plataforma Ethereum.
O Blockchain muito além dos bancos nos traz considerações sobre as possibilidades de aplicações da tecnologia para minimizar o uso das plataformas de intermediação e consequente redução dos custos de transações envolvendo as partes. O conteúdo dessa publicação tem forte interseção com a discussão sobre Blockchain versus Uber e Airbnb anteriormente apresentada, ambas provenientes do mesmo autor.
Finalmente Adoção do Blockchain é inevitável nos fala da irreversibilidade da evolução dessa tecnologia, cabendo às pessoas e empresas aprender como ela funciona e sair na frente, aproveitando as oportunidades que se apresentam em cada ambiente de negócios específico.
Mas será que todos vêem o caminho para o futuro da tecnologia Blockchain como um céu de estrelas sem nenhuma turbulência?
Recorremos à mesma fonte das publicações anteriores para encontrar outras opiniões sobre a questão: em cinco problemas com o blockchain que ainda precisam ser resolvidos é postulado que “apesar da promessa de reinventar os processos de negócios, ainda estamos diante de uma tecnologia incipiente, que continua a mostrar vulnerabilidades”.
Tal afirmação está sustentada em recente relatório da Forrester Research, que se debruçou sobre o debate entre a realidade e o hype em torno do Blockchain, que nos diz que “a progressão no seu uso provavelmente será lenta e estável, com implantações de nicho prevalecendo nas grandes empresas”.
Nesta linha o relatório recomenda experimentações cautelosas, devido a problemas atuais e potenciais com o uso do software: “as duas plataformas mais prevalentes, Hyperledger e Ethereum, não possuem maturidade, o que pode apresentar problemas imprevistos na implantação”.
Ainda cabe salientar no relatório a afirmação de que a tecnologia Blockchainnem sempre é a solução adequada para armazenar dados: em boa parte das situações “é melhor usar um banco de dados relacional com armazenamento em rede separado para algumas tarefas transacionais do que usar Blockchain“.
Finalmente, é assinalado que o uso em escala constitui um enorme desafio na implantação de soluções baseadas no Blockchain: “devido a sua natureza de cadeia, cada novo registro inserido em um bloco deve ser serializado, o que significa que a taxa de atualizações é mais lenta do que os bancos de dados tradicionais, que podem utilizar dados em paralelo”.
O que concluímos de tudo isso, sendo somente um especialista em encontrar soluções mais adequadas para os problemas com os quais nos deparamos na gestão e operação dos processos de negócio, especialmente neste novo mundo 4.0?
Que o uso do Blockchain poderá ser uma boa solução para parte dos problemas hoje encontrados nos processos de negócio, mas não será a única opção futura no contexto das transações entre pessoas e empresas.
Que a viabilidade de expansão do Blockchain em larga escala depende da maturidade e das experiências de uso das plataformas tecnológicas, o que seguramente ocorrerá com o envolvimento de empresas como a IBM e a Microsoft com o desenvolvimento das mesmas.
Que a expansão de uso das soluções baseadas em Blockchain deve envolver de forma mais acentuada os gestores, na discussão das oportunidades e vantagens comparativas de sua aplicação em cada modelo de negócio específico.
Que a estratégia de inserção destes experimentos no contexto do ambiente de negócios deve atentar para o que histórias passadas nos contam: tecnologias novas devem ser entendidas tanto pelos técnicos como pelos gestores que delas serão usuários.
Que tal entendimento pode ser auxiliado pela busca de relatos de experiências (casos de uso) e participação em eventos sobre o tema (não importando se ainda tem um cunho muito técnico, o importante é compartilhar dúvidas e sugestões com outros interessados).
Que as tecnologias e possíveis soluções ofertadas devem ser adotadas com cautela e parcimônia, por meio de experiências piloto de forma a não comprometer o cerne dos negócios.
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