Por Carlos Baptista

Durante os últimos anos, muito se falou e se escreveu sobre o mundo VUCA e a necessidade de transformação digital. Esse termo surgiu para explicar o ambiente pós-Guerra Fria; é um acrônimo para Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade). Com o surgimento da pandemia, esse ambiente de alta complexidade para os negócios foi potencializado, gerando novas dificuldades como a flexibilidade e adaptabilidade constantes.

Por outro lado, o líder de Tecnologia enfrenta a necessidade de evolução tecnológica constante, mantendo a previsibilidade tradicionalmente necessária para o mundo do negócios. Se não fossem estas variáveis suficientemente complexas para gerenciar em simultâneo, esse líder seria pressionado num mercado pós pandemia por mais resultados com menos investimento para que possa se recuperar dos impactos gerados pela pandemia.

De acordo com um estudo elaborado pela consultoria KPMG, embora exista a necessidade de evolução tecnológica decorrente da digitalização, apenas 48% dos líderes de Tecnologia esperam aumento de orçamento no próximo ano, quando antes da pandemia, esse número era de 57%. Por outro lado e de acordo com o mesmo estudo, cerca de 61% dos líderes de Tecnologia entrevistados têm uma participação importante nos conselhos de administração influenciando diretamente na estratégia de negócio das empresas.

Ou seja, o líder de tecnologia tem um papel crucial na retomada dos negócios de um modo estratégico. E, para que isso seja possível de um modo mais eficaz do que eficiente, alguns aspectos devem ser considerados.

Evolução líquida

A quantidade de possibilidades de evolução é praticamente infinita e surgem diariamente novas ferramentas e tecnologias. A estratégia de evolução deve passar a considerar ferramentas tecnológicas como big data, DevOps, inteligência artificial, mobile, blockchain, etc. Esta infinidade de possibilidades gera dúvidas e incertezas sobre qual o caminho ideal. Para simplificar, essa evolução deve adotar uma estratégia “liquida”. Isso significa que deverá ser mais flexível, versátil, adaptável e de alto impacto, como ocorre com a água, que é forte, é flexível e avança para onde há oportunidade. As grandes plataformas e arquiteturas tendem a ser menores, mais versáteis e experimentais.

Tecnologia inteligente
Para que o resultado seja potencializado, torna-se necessário que a experiência do usuário seja diferenciada. Para tal, é crucial a assertividade na entrega do produto ou serviço por intermédio da hiper personalização. Isso é possível pela utilização da tecnologia para gerar dados e transformar em insights. Cada vez mais se fala que a Era do Petróleo foi substituída pela Era dos Dados.

Várias empresas, chamadas data driven companies, baseiam os seus modelos de negócio no tratamento dos dados. Para que as aplicações sejam mais inteligentes, é importante a adoção de plataformas de big data conectadas com plataformas de interpretação de imagens com inteligência artificial. Os negócios dificilmente sobreviverão se não investirem no tratamento dos dados disponíveis e basearem as suas decisões nas informações geradas.

Modularização
A estratégia de evolução precisa considerar a conexão com serviços, produtos ou dados externos ao invés da tradicional estratégia de sourcing interno. Esta abordagem necessita de um novo olhar para questões como a segurança da informação. No entanto, esse novo desafio não pode impedir que esta estratégia seja considerada porque a mesma possibilita maior time de market, utilizar serviços altamente especializados e de alta qualidade além de possibilitar e monetizar a disponibilização dos meus serviços e dados. Um exemplo é a utilização dos serviços disponibilizados pelo Google Maps ao invés de desenvolver esse tipo de serviço.

Execução ágil
A adoção dos métodos ágeis por toda a organização é a chave para que a execução da estratégia seja mais flexível. A utilização dos ciclos curtos de feedback possibilita a redução do risco e maximização do resultado. O custo também será reduzido porque estes processos possibilitam que a execução seja mais eficaz (fazer certo o que precisa ser feito) ao invés de eficiente (fazer tudo bem feito); Um aspecto importante sobre este ponto é a necessidade de praticar o desapego da tradicional estabilidade adotando uma cultura de aprendizado constante e tolerância ao erro.

O líder de tecnologia assumiu um novo papel na estratégia das empresas neste novo mundo pós pandemia. A volatilidade, complexidade e incerteza são uma constante e para isso, esse novo líder precisa ter plataformas mais flexíveis e adaptáveis que lhe permitam mudar a estratégia rapidamente e serem pioneiros na entrega dos produtos e serviços.

Carlos Baptista é especialista em transformação digital e processos ágeis para as empresas. Professor e Coordenador do núcleo de seleção de alunos do MBA da FIAP. É empresário, consultor de negócios e mentor. Possui mais de 30 anos de experiência em TI no Brasil e Portugal.