Por Sônia Martinêz, Jornalista e diretora editorial na Fonte da Notícia
O Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado neste 5 de junho, é sempre um convite à reflexão sobre a nossa relação com a natureza, da qual extraímos todos os recursos necessários à vida sem pagar nada.
A cada ano que passa, temos menos a comemorar nesta data, pois as últimas décadas vêm mostrando que a conexão entre a sociedade e o meio ambiente ficou em um passado distante.
É verdade que o crescimento acelerado da população mundial contribuiu para o cenário socioambiental preocupante que vivemos hoje, principalmente após o advento da Revolução Industrial.
A linha do tempo da chamada explosão demográfica ocorrida lá atrás aponta que, no período de 200 anos, a Terra ganhou 500 milhões de novos habitantes. Isso em 1850, data em que atingiu o seu primeiro bilhão de pessoas.
Um século depois, em 1950, a Terra somaria 2,5 bilhões de indivíduos e quarenta anos mais tarde esse número alcançaria a casa de 5,2 bilhões. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), o mundo tem hoje 7,8 bilhões de pessoas e a previsão é de que, em 2050, a população mundial terá mais dois bilhões de habitantes.
Ou seja, dentro de 30 anos teremos quase 10 bilhões de habitantes demandando recursos naturais. Até a década de 70, precisávamos de pouco mais de 70% dos recursos da Terra para atender a humanidade, ritmo que a permitia respirar e se regenerar. Hoje, é necessário 1,6 planeta para dar conta da população mundial.
Em paralelo ao salto populacional, o atual modelo econômico, que prioriza única e exclusivamente o lucro, se consolidou, estimulando a extração de recursos naturais de maneira irracional, como se fossem infinitos; e o consumo desenfreado. É a chamada economia linear, que consiste em produzir, consumir e descartar. É o pensar no hoje, sem se importar com o que restará para suprir as necessidades das futuras gerações.
As consequências desse sistema de produção permeia o mundo e estão presentes no nosso dia a dia. No final de maio, por exemplo, o governo federal anunciou que uma crise energética deverá afetar o Brasil este ano, em razão da escassez de chuvas, impactando diretamente a economia e o desenvolvimento do país.
Possuímos uma matriz energética baseada em hidrelétrica, que necessita de água para gerar energia. Água é um bem finito e já escasso no planeta. Não por acaso, vários países vem investindo na produção de energia limpa (eólica e solar). O Brasil segue nessa direção, mas em um ritmo extremamente aquém do potencial nacional.
Além de rios, lagos e outras fontes de água poluídos pela ação do homem, desperdiçamos ainda quase 40% de toda a água potável tratada, volume que daria para abastecer 35 milhões de brasileiros que não contam com água em suas residências, de acordo com o estudo recém- divulgado pelo Instituto Trata Brasil.
O lixo é outro setor que nos toca diretamente e é igualmente fruto do modelo econômico da sociedade moderna. A pandemia mostrou o quanto de resíduos (seco e orgânico) produzimos e descartamos indevidamente. Dados de 2019 publicados pelo Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil/2020 mostram que 40% do lixo produzido no país não receberam o destino correto. O que significa contribuir para a continuidade de lixões, sobrecarregar os aterros sanitários e colaborar para que os órgãos públicos destinem recursos desnecessários à coleta de lixo.
Só esses dois universos (água/energia e lixo), há vários outros, já reforçam a necessidade premente de começarmos a estabelecer uma nova relação com o meio ambiente, adotando um desenvolvimento sustentável, no qual o respeito aos limites da natureza vem em primeiro lugar e nem por isso deixa de gerar lucro. Não se trata de uma transformação fácil, com resultados imediatos. Mas que se faz necessária quando olhamos para futuro.
Comentários