por Fausto Motter, é diretor de tecnologia da Globant, empresa nativa digital que oferece soluções de tecnologia inovadoras.
A maior prova da teoria da História Cíclica são os jargões e hypes que nascem para justificar movimentos corporativos, porém, ao final de um período, se esgotam neles mesmos, somem, como que por mágica, para serem substituídos por outros termos sempre mais inovadores e, agora, mais disruptivos.
A inovação tem várias faces, partindo da criação ou da melhoria de um produto ou serviço. O mundo seguirá consumindo aço, minério, cimento e as indústrias de transformação seguirão relevantes. Neste contexto, o desafio é encontrar as oportunidades de melhoria aderentes em uma agenda de transformação digital. Diferente dos hypes anteriores, este não passa por “implementar uma tecnologia nova”, mas, de forma multidisciplinar, construir uma identidade de negócio e um método que, junto à tecnologia, consiga melhorar ou reinventar alguma coisa já existente.
Não estamos falando de uma ferramenta ou de um caminho único, e não faz sentido falar de agenda futura sem colocar as atividades do presente em foco. Precisamos revisitar os conceitos e direcionar as corporações para o sentido das empresas inteligentes e autônomas. Falar em transformação digital com o rigor conceitual necessário passa, inclusive, por reinventar negócios. Falar em empresa inteligente e empresa autônoma são temas por vezes muito mais simples de se efetivar e, em alguns casos, com um impacto tão grande quanto em todos os atores corporativos; incluindo suas relações.
Recentemente, junto a um grupo de estudo, foi realizada a análise de um processo comercial que passava por várias pessoas e, nele, eram requeridos vários níveis de decisão e critérios tidos como complexos. E, para nossa surpresa, com um pouco de criatividade, imersão no processo e utilização de ferramentas de mercado, que passam longe de ser “rocket science” como se imaginava, substituiu-se todos, absolutamente todos os intermeios humanos do processo, desde a cotação até o momento em que o material estava sendo separado, por soluções autônomas. Com uma camada de inteligência de dados deu-se a visibilidade que o negócio precisa para poder acompanhar os processos e identificar desvios. E, com um pouco de empenho e imersão, um processo custoso que possuía atrasos e diversos riscos agora está autônomo com soluções simples e disponíveis de maneira comercial. Isso é transformação!
Diante deste contexto, nota-se que existe uma lacuna na agenda das corporações que está sendo ocupada por um conceito de Transformação Digital, que é amplo e muito focado para a reinvenção dos negócios, enquanto a operação pode estar perdendo uma imensa oportunidade de capturar benefícios com o ajuste dos processos e o foco na empresa autônoma. Acredite, em muitas, mas muitas atividades, os robôs e a inteligência de máquina, com um par de clicks e um pequeno esforço aqui e acolá, já pode fazer muito melhor, mais rápido e barato do que muitos times operativos. E, como que por mágica, é possível antecipar desvios e dar visibilidade em tempo real do andamento da operação.
O convite aqui é falar de inovação não apenas reinventando e buscando o novo El Dorado, mas também melhorando o que existe para garantir que os times operativos virem supervisórios, buscando uma integração homem versus máquina que construa melhores processos e impacte, inclusive, a vida das pessoas. Talvez estejamos vivendo um momento único na história, no qual a mudança da sociedade, das relações comerciais e de trabalho se darão de forma virtuosa por meio de ferramentas realmente inteligentes.
Em pouco tempo, a maioria dos processos mercantis serão executados por algoritmos. A busca por performance e produtividade se dará por meio de robôs e inteligência artificial. A barreira de entrada neste mundo é baixa e a cada dia que se posterga a decisão de sistematizar e colocar uma camada de inteligência e automação nos processos, mais perto estamos da queima de caixa para sobrevivência em tempos de incerteza.
A decisão é simples e elementar. E a única crença, ou dogma que precisa ser desfeito, é que a empresa autônoma e inteligente ainda é um sonho distante, custoso e que demanda muito esforço para ser implementada. Pelo contrário, esta agenda é incremental, ágil, evolutiva e está disponível para hoje.
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