Por Claudia Chamas

Segundo a revista Galileu

 

  1. A pesquisa, que foi liderada por cientistas da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, analisou dados de quase 100 mil pessoas que testaram positivo para o novo coronavíruse concluiu que os medicamentos: cloroquina e hidroxicloroquinanão são eficazes para o tratamento da Covid-19 e que, inclusive, aumentam o risco de morte.
  2. A Organização Mundial da Saúde (OMS) anuncia a interrupção de um estudo que investigava a eficácia da cloroquina e hidroxicloroquinacontra a doença.
  3. A empresa Surgisphere, que forneceu dados para o estudo publicado no Lancet, foi questionada por pesquisadores que não participaram do estudo de Harvard.
  4. O questionamento chamou atenção dos editores do próprio The Lancet, que publicaram um comunicadona quarta-feira (3) dizendo que o estudo seria reavaliado
  5. “Uma auditoria independente da proveniência e validade dos dados foi encomendada por autores não afiliados à Surgisphere e está em andamento
  6. New EnglandJournalof Medicine, outro respeitado periódico científico, publicou um posicionamento manifestando preocupação por também ter divulgado um estudo baseado em dados da Surgisphere: O artigo, publicado em 1º de maio, relata que o uso de certos medicamentos para pressão arterial, incluindo inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), não aumenta o risco de morte entre pacientes com Covid-19, como sugeriram alguns pesquisadores.
  7. A Surgisphere, no entanto, se negou a abrir os dados para a respectivas auditorias solicitadas pelo The Lancete pelo New EnglandJournalof Medicine.
  8. Nossos revisores nos informaram que a Surgisphere não transferiria o conjunto de dados completo, os contratos dos clientes e o relatório de auditoria completo para análise, pois tal transferência violaria os requisitos de confidencialidade”, escreveram os autores da pesquisa do The Lancetem uma retratação publicada nesta quinta-feira
  9. Com base nesse desenvolvimento, não podemos mais garantir a veracidade das fontes de dados primárias.
  10. a OMS resolveu autorizar a retomada dos estudos com a cloroquina e a hidroxicloroquina. “O Comitê de Segurança e Monitoramento de Dados continuará monitorando de perto a segurança de todas as terapias sendo testadas no Estudo Solidariedade”

Segundo EnfoqueMs

  1. Críticos do estudo sinalizaram anomalias nas pesquisas, como descobertas não plausíveis que deveriam ter sido detectadas durante o processo de revisão de pares, como a inclusão do registro de um grande número de casos da covid-19 mesmo antes da pandemia, inclusive na África, segundo o New York Times.
  2. Muitos cientistas duvidaram que esse gigantesco banco de dados, oferecidos pela empresa, pudesse existir, e que a coleta de dados em vários continentes não poderia ter sido realizada tão rapidamente, ainda de acordo com a publicação.
  3. O médico SapanDesai, fundador da Surgisphere, é um dos autores do estudo da Lancet. Alega-se que, além de Desai, os demais autores não sabiam sobre os dados que haviam sido usados na pesquisa.
  4. Não é a primeira vez que o Lancet retira um estudo publicado. Há 20 anos, o periódico publicou uma pesquisa que associava erroneamente o autismo à vacina tríplice viral (rubéola, caxumba e sarampo), posteriormente cancelada. Mesmo infundada, repercute até hoje nos movimentos antivacina.

 

Revista Isto é Dinheiro

  1. O artigo declara: “expressionofconcern” (“expressão de preocupação”), uma declaração formal usada por periódicos científicos para indicar que um estudo é potencialmente problemático.
  2. Teve um impacto mundial e grandes repercussões, pressionando a Organização Mundial da Saúde (OMS) a suspender os ensaios clínicos com hidroxicloroquina contra a COVID-19. Da mesma forma, a França decidiu proibir esse tratamento
  3. dezenas de cientistas em todo mundo observaram que uma análise minuciosa do estudo da Lancet levanta “preocupações metodológicas e sobre a integridade dos dados”.
  4. elaboraram uma longa lista de pontos problemáticos, desde inconsistências nas doses administradas em certos países até questões éticas sobre a coleta de informações, incluindo a recusa dos autores a darem acesso a dados brutos.
  5. “Estamos orgulhosos de contribuir sobre a COVID-19” neste período de “incerteza”, disse SapanDesai, chefe da Surgisphere, à AFP em 29 de maio.
  6. O especialista francês, o professor Gilbert Deray, vê na publicação desses avisos pela “The Lancet” e NEJM como um sinal de que os dois estudos estão “em processo de retração”. Segundo ele, esse repúdio seria “um desastre”, pois esses periódicos são “referências”.
  7. “Esses erros ilustram que o tempo científico deve ser desconectado do da mídia. A urgência da pandemia não justifica estudos ruins”, afirmou ele no Twitter.

Revista The Guardian

  1. Uma investigação do Guardian pode revelar que a empresa norte-americana Surgisphere, cujos funcionários parecem incluir um escritor de ficção científica e um modelo de conteúdo adulto, forneceu dados para vários estudos sobre o Covid-19, em coautoria de seu diretor executivo, mas até o momento, não conseguiu explicar adequadamente seus dados ou metodologia.
  2. Duas das principais revistas médicas do mundo – o Lancet e o New EnglandJournalof Medicine – publicaram estudos com base nos dados do Surgisphere. Os estudos foram co-criados pelo diretor executivo da empresa, SapanDesai.
  3. Uma pesquisa de material disponível ao público sugere que vários funcionários do Surgisphere têm poucos ou nenhum dado ou formação científica. Um funcionário listado como editor de ciência parece ser um autor de ficção científica e artista de fantasia cujo perfil profissional sugere que escrever é seu trabalho em período integral. Outro funcionário listado como executivo de marketing é um modelo adulto e hostess de eventos, que também atua em vídeos para organizações.
  4. Desai foi nomeado em três processos por negligência médica, não relacionados ao banco de dados do Surgisphere.
  5. O estudo Lancet, que listou Desai como um dos coautores, afirmou ter analisado os dados do Surgisphere coletados de quase 96.000 pacientes com Covid-19, admitidos em 671 hospitais em seu banco de dados de 1.200 hospitais em todo o mundo, que receberam hidroxicloroquina isoladamente ou em combinação com antibióticos.
  6. O Dr. James Todaro, que dirige o MedicineUncensored, um site que publica os resultados dos estudos com hidroxicloroquina, disse: “A Surgisphere surgiu do nada para conduzir talvez o estudo global mais influente nessa pandemia em questão de poucas semanas e complementa: “Não faz sentido”, disse ele. “Isso exigiria muito mais pesquisadores do que afirma ter para que esse expediente e [tamanho] de estudo multinacional sejam possíveis”.
  7. Nenhuma das informações do banco de dados de Desai foi divulgada publicamente, incluindo os nomes de qualquer um dos hospitais, apesar do Lancet estar entre os muitos signatários  de uma declaração sobre compartilhamento de dados para os estudos Covid-19. O estudo Lancet agora é disputado por 120 médicos .
  8. “Os privilégios clínicos do Dr. Desai com o NCH não foram suspensos, revogados ou limitados pelo NCH”, disse uma porta-voz. O hospital se recusou a comentar os processos por negligência.
  9. A página agora excluída de Wikipedia de Desai disse que ele possuía doutorado em Direito e doutorado em anatomia e biologia celular, além de suas qualificações médicas. Uma biografia de Desai em um folheto para uma conferência médica internacionaldiz que ele ocupou vários cargos de liderança médica na prática clínica
  10. Hoje, o professor Peter Horby, professor de doenças infecciosas emergentes e saúde global do Departamento de Medicina de Nuffield, Universidade de Oxford, disse: “Congratulo-me com a declaração do Lancet, que segue uma declaração semelhante do NEJM sobre um estudo do mesmo grupo. sobre drogas cardiovasculares e COVID-19.

Proveniência de dados é bem compreendida no contexto das bibliotecas digitais como um processo de documentação do ciclo de vida dos dados, o principal fundamento da proveniência é  recolher indícios quanto ao tempo, lugar e se for o caso, pessoa responsável pela criação, produção, descoberta ou inserção do dado, faz referencia a origem do dado e  está voltada ao processo de investigação, armazenamento da origem dos dados, bem como a sua movimentação no banco de dados.

Entre os estudos sobre proveniência de dados propõe-se a utilização de um processo que faça o mapeamento do fluxo de trabalho ou workflow, uma especificação das partes envolvidas, contando com um esforço coletivo para manter a proveniência de forma explícita, este é um  trabalho fundamental  justamente porque, a meu ver, todo o trabalho de análise de dados ao qual tantas empresas se dedicam atualmente,  fica perdido.

Confusões a parte sobre todas as informações que tivemos com relação a medicação correta ou não a ser utilizada no combate a pandemia de COVID-19, entre outras informações no mínimo contraditórias, perdidas e por vezes equivocadas, buscar fontes cientificas seria a nossa “ tábua de salvação”, então o que pensar quando revistas renomadas envolvidas com universidade igualmente de renome, fazem estas colocações?

Mais atenção a Proveniência de dados.

 

Referências bibliográficas:

Homepage: Revista Galileu

<https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2020/06/entenda-retratacao-de-estudo-sobre-cloroquina-e-hidroxicloroquina.html>

Homepage: The Guardian

https://www.theguardian.com/world/2020/jun/03/covid-19-surgisphere-who-world-health-organization-hydroxychloroquine

Homepage: EnfoqueMS

https://www.enfoquems.com.br/noticias/dois-estudos-sobre-cloroquina-foram-anulados-entenda-por-que

Homepage: Isto é Dinheiro

https://www.istoedinheiro.com.br/hidroxicloroquina-the-lancet-se-distancia-de-estudo-controverso/

ALMEIDA, Fernanda Nascimento. Descrição da proveniência de dados para extração de conhecimento em sistemas de informação de hemoterapia. 2012. Tese (Doutorado em Bioinformática) – Bioinformática, Universityof São Paulo, São Paulo, 2012. doi:10.11606/T.95.2012.tde-04092012-134137. Acesso em: 2020-06-18.

Por Claudia Chamas
Mestre em Ciência e tecnologia nuclear (IPEN/ USP) foco na governança de dados científicos.
Analista de negócios orientado a dados. Responsável pela condução de projetos e programas de gerenciamento de dados, informações e conhecimento.