Por Cristovão Wanderley, Sócio-diretor da Stratlab e Especialista em Tecnologia e Dados

Lembra quando você foi marcado por um amigo numa foto e chegou uma notificação avisando? E quando usou aquele aplicativo que simula como seria o seu rosto como uma criança ou um idoso? Já parou para pensar quantas vezes você já utilizou os filtros nas câmeras do Instagram ou do TikTok?

Todas essas ferramentas possuem uma tecnologia em comum: o reconhecimento facial. Utilizado em diversos apps, desde redes sociais até os bancários, o software foi destaque em alguns portais de notícias nas últimas semanas.

Isso acontece porque a AEPD ou Autoridade Europeia de Proteção de Dados se manifestou completamente contrária ao uso do sistema de reconhecimento facial. Segundo o órgão regulador de privacidade da União Europeia, a tecnologia é uma “intrusão profunda e não democrática” e deve ser banida do continente.

Tomando o mesmo rumo das autoridades do Velho Continente, a Meta (ou antigo Facebook) comunicou sua decisão de “descontinuar” o recurso de Face Recognition em suas plataformas. De acordo com a empresa norte-americana, a decisão, que deve ser implementada ainda nos próximos dias, acabará com os algoritmos de reconhecimento facial para marcar pessoas em vídeos e fotos, além de excluir os modelos que usa para identificação.

Seria o fim do uso da tecnologia de reconhecimento facial? Será que a solução é mesmo tão perigosa para ser extinta em um momento em que a tecnologia está em uma evolução tão exponencial na qual estamos discutindo metaverso e NFT, o Non-fungible Token?

O que esperar da interface de reconhecimento facial?

Segundo o relatório da Allied Market Research, a demanda global por sistemas de reconhecimento facial tem crescido, impulsionada pelo aumento da preocupação com a higiene sanitária. O setor registrou faturamento de US$ 3,78 bilhões no ano passado e deve movimentar US$ 9,6 bilhões (R$ 53 bilhões) em 2022.

Tomando a América do Sul como referência, podemos dizer que a tecnologia de reconhecimento facial está mais disseminada. De acordo com o levantamento feito pela Surfshark, 92% dos países utilizam essa tecnologia por aqui.

No Brasil, por exemplo, a tecnologia é utilizada no setor de segurança pública. Estados como Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo têm experimentado o reconhecimento facial em câmeras de segurança integradas com biometria facial para localizar e prender suspeitos.

A 99 é um exemplo de empresa que tem utilizado a interface de reconhecimento facial para identificar, automaticamente, os rostos dos motoristas cadastrados na plataforma.

O procedimento acontece em parceria com o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), que cruza a imagem coletada pela startup com a foto que está no banco de dados do órgão regulador. Na teoria, isso ajuda a preservar a segurança dos passageiros.

Cuidado ou invasão de privacidade?

Interfaces de reconhecimento facial podem proporcionar diversos benefícios, mas ao mesmo tempo levantam discussões pertinentes sobre proteção de dados, privacidade e neutralidade das pessoas.

Por aqui, acredito que será muito importante a atuação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados para garantir que a LGPD seja respeitada, estimulando as empresas a adotarem políticas claras e éticas de consentimento, compliance e criptografia em relação à biometria facial.

Afinal, será que proibir é a solução?

Quais são os limites éticos na aplicação do reconhecimento facial?

Diante desses dilemas, gosto de lembrar de uma frase dita por Bill Gates durante sua palestra na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, lá em 2004:

“Quando eu estava na escola, o computador era uma coisa muito assustadora. As pessoas falavam em desafiar aquela máquina do mal que estava sempre fazendo contas que não pareciam corretas. E ninguém pensou naquilo como uma ferramenta poderosa.”

Enfrentar ou usar como um aliado para ir ainda mais longe. Caberá a cada modelo de negócio decidir a melhor forma de utilizar a tecnologia dentro dos seus processos, sua rotina ou seu mercado.

O importante é estar consciente sobre todas as possibilidades e, depois de analisar todos os prós e contras, decidir o que é melhor para cada empresa. Sem precipitações, certo?